Halloween. É aquela época do ano em que o ar fica mais geladinho, os dias mais
curtos, e para muitos jovens americanos aumenta empolgação e expectativa para o
feriado mais sombrio e aterrorizante do ano.
O comércio também se
anima com a perspectiva de aquecer suas caixas registradoras com uma média de
US$ 79,82 por domicílio, gastos em decorações, fantasias, doces e cartões. O
Halloween irá gerar aproximadamente 8 bilhões de dólares esse ano.
Podemos apostar que os
comerciantes não terão grandes expectativas de faturar os US$ 79,82 dos
domicílios cristãos.
Muitos deles se recusam
a participar do Halloween. Alguns desconfiam de suas origens pagãs; outros de
suas figuras obscuras e macabras; e ainda existem aqueles preocupados com a
segurança de suas crianças. Entretanto, outros cristãos escolhem participar das
comemorações, seja em atividades escolares, no “doçura ou travessura” de sua
vizinhança ou algum tipo de atividade alternativa em suas igrejas.
A questão é: como os cristãos devem reagir ao Halloween? É irresponsabilidade dos pais deixar seus filhos saírem pedindo “doçura ou travessura”? E quanto aos cristãos que refutam qualquer tipo de comemoração durante esse período? Estariam eles exagerando?
A
ORIGEM PAGÃ DO HALLOWEEN
O nome Halloween vem da
celebração do dia de todos os santos dos primórdios da igreja, um dia separado
para solenemente lembrar os mártires. All Hallows Eve, na véspera do Dia de
todos os Santos, se iniciava o tempo de lembrança. All Hallows Eve foi eventualmente
resumido para Hallow-e’em, que então se tornou “Halloween”.
Na medida em que os
cristãos se espalharam pela Europa houve um choque com culturas nativas pagãs,
confrontando costumes já estabelecidos. Feriados e festivais pagãos estavam tão
impregnados em sua realidade que novos convertidos os consideraram pedras de
tropeço para sua fé. Para lidar com esse problema, a igreja comumente alterava
a data de um feriado cristão para outro ponto do calendário que confrontaria
diretamente o feriado pagão. O objetivo era combater a influência pagã e prover
uma alternativa cristã, mas o que aconteceu com maior frequência foi a igreja
“cristianizar” um ritual pagão – o ritual permanecia pagão, mas misturado com
simbolismos cristãos. Foi isso que aconteceu com o Dia de todos os Santos – ele
originalmente era a alternativa cristã!
Os povos celtas da
Europa e Grã Bretanha eram druidas pagãos e suas maiores celebrações eram
marcadas pelas estações do ano. Ao final do ano no Norte Europeu, as pessoas
faziam seus preparativos para sobreviver ao inverno, colhendo suas plantações e
abatendo os animais mais fracos de seus rebanhos. A vida diminuía de ritmo à
medida que o inverno trazia a escuridão (dias mais curtos e noites mais
longas), solo infértil e morte. As imagens de morte, simbolizada por
esqueletos, crânios e a cor preta, são predominantes nas atuais celebrações do
Halloween.
O festival pagão Samhain
(pronunciado em inglês “sow” “en”) celebrava o final da colheita, morte e o
começo do inverno durante três dias – de 31 de Outubro até 02 de Novembro. Os
celtas acreditavam que a cortina que separava os vivos dos mortos se abria
durante o Samhain permitindo que os espíritos dos mortos caminhassem entre os
vivos – fantasmas assombrando a terra.
Alguns adotavam a
temporada de assombrações aderindo a práticas de ocultismo como adivinhação e
comunicação com os mortos. Eles consultavam espíritos “divinos” (demônios) e
espíritos de seus ancestrais pedindo previsões para as estações do próximo ano,
o sucesso de suas plantações e até sobre o sucesso de suas vidas amorosas.
Tentar pegar com a boca,
maças boiando dentro de uma tina de água, era uma pratica pagã para predizer as
“bênçãos” do mundo espiritual sobre a relação romântica de um casal.
Para outros o foco na morte,
ocultismo, adivinhações e a ideia de espíritos retornando para assombrar os
vivos, eram combustíveis para superstições e medos. Eles acreditavam que os
espíritos estavam presos à terra até que fossem despachados com os devidos
deleites – posses, dinheiro, comida e bebida. Espíritos que não haviam sido
devidamente saciados iriam enganar (“trick”[1]) aqueles que os haviam
negligenciado. O medo de assombrações só aumentava se aquele espírito tivesse
sido ofendido durante sua vida “encarnada”.
Acreditava-se que os
espíritos “trick-bent” assumissem formas grotescas. Iniciou-se a tradição de
acreditar que usar uma fantasia para se parecer com um espírito enganaria a
“alma penada”. Outros acreditavam que os espíritos poderiam ser espantados se
você esculpisse uma face grotesca em uma abóbora ou outro tipo de raiz (os
escoceses usavam nabos, por exemplo) e colocasse uma vela dentro – criando a
abóbora de Halloween (em inglês jack-o-lantern).
Nesse mundo sombrio,
supersticioso e pagão, Deus fez por sua misericórdia brilhar a luz do
evangelho. Novos convertidos ao cristianismo se armaram com a verdade e
deixaram de temer assombrações de espíritos que retornariam à terra. Na
verdade, eles condenaram suas antigas práticas de espiritismo pagão de acordo
com Deuteronômio 18:
“Não permitam que se ache alguém entre vocês que… pratique adivinhação, ou dedique-se à magia, ou faça presságios, ou pratique feitiçaria ou faça encantamentos; que seja médium ou espírita ou que consulte os mortos. O Senhor tem repugnância por quem pratica essas coisas.” (vv. 10-12).
Não obstante, esses
novos convertidos tiveram dificuldade para resistir a influência cultural e
familiar; eles eram tentados a retomar os festivais pagãos, especialmente o
“Samhain”. O Papa Gregório IV reagiu ao desafio do paganismo e alterou a data
do Dia de todos os Santos no século nono – A data foi movida para 1º de
novembro, bem no meio do Samhain.
Ao passar dos séculos, o
Samhain e o Dias de todos os Santos se misturaram. Por um lado, as superstições
pagãs deram espaço para superstições “cristianizadas” que promoveram ainda mais
medo. As pessoas passaram a acreditar que os espíritos ancestrais dos povos
pagãos eram demônios e que os adivinhos eram praticantes de bruxaria e
necromancia. Por outro lado, os festivais promoviam uma grande oportunidade
para folia. O “doçura ou travessura” se tornou uma oportunidade para grupos de
jovens arruaceiros perambularem de casa em casa arrecadando comida e bebida
para suas festas. Proprietários avarentos corriam o risco de jovens embriagados
praticarem “travessuras” ou “trotes” em suas casas.
O Halloween não se
tornou uma celebração americana até a imigração das classes operarias
britânicas no final do século XIX. Enquanto os primeiros imigrantes podem ter
acreditado em tradições supersticiosas, foi aspecto malicioso desse feriado que
atraiu os jovens americanos. Gerações mais novas emprestaram ou adaptaram muitos
costumes sem a referência de suas origens pagãs.
Os filmes de Hollywood
também incrementaram a “diversão” com muitos personagens fictícios – demônios,
monstros, vampiros, lobisomens, múmias e psicopatas. Com certeza isso não tem
contribuído com a mentalidade americana, mas com certeza alguém está fazendo
muito dinheiro.
A
RESPOSTA CRISTÃ AO HALLOWEEN
Atualmente o Halloween é
quase que exclusivamente um feriado americano secular, mas muitos que o
celebram não têm ideia de suas origens religiosas ou herança no paganismo.
Isso sem dizer que o
Halloween tem se tornado mais salutar. As crianças se vestem com fantasias
engraçadas, vagam pela vizinhança em busca de doces e contos de histórias de
terror. Por outro lado, os adultos frequentemente se envolvem em atos
vergonhosos de bebedeira e devassidão.
Então como devem agir os
cristãos?
Primeiramente, os
cristãos não devem reagir ao Halloweeen como os pagãos supersticiosos. Pagãos
são supersticiosos, cristãos são iluminados pela verdade da Palavra de Deus. Os
espíritos e potestades não estão mais ativos no Halloween do que estariam em
qualquer outro dia do ano; na verdade, qualquer dia é um bom dia para Satanás
perambular à procura de quem devorar (1Pedro 5.8), mas aquele que está em vocês
é maior do que aquele que está no mundo (1João 4.4). Deus tendo despojado os
poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre
eles na cruz (Colossenses 2:15).
Em segundo lugar, os
cristãos devem reagir ao Halloween com cautela e sabedoria. Algumas pessoas
temem as atividades de satanistas ou bruxos, mas os atos criminosos
relacionados a essas práticas são muito poucas. A real ameaça está mais
relacionada aos problemas sociais de comportamentos pecaminosos – dirigir
alcoolizado, praticar vandalismo e deixar crianças sem supervisão.
Assim como qualquer
outro dia do ano, nós cristãos devemos agir como bons mordomos daquilo que
temos e protetores de nossas famílias. Os jovens cristãos devem ficar longe de
festas de Halloween seculares, já que elas são como terreno fértil para
problemas. Pais cristãos podem proteger suas crianças mantendo-as bem supervisionadas
e restringir o consumo de guloseimas para aquelas em que se possa averiguar a
procedência.
Em terceiro lugar,
devemos reagir com a compaixão do evangelho. O mundo incrédulo, que rejeita a
Cristo, vive em constante medo da morte. Não é somente a experiência da morte,
mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que
consumirá os inimigos de Deus (Hebreus 10.27). Bruxas, fantasmas, e espíritos
malignos não são assustadores; A ira de Deus sobre o pecador que não conhece seu
perdão; isso sim é realmente assustador.
Os cristãos devem usar o Halloween e tudo que ele
traz à imaginação – imagens de morte, superstições, folia exagerada – como uma
oportunidade para confrontar o mundo com o evangelho de Jesus Cristo. Deus deu
a todos uma consciência que responde as suas verdades (Romanos 2.14-16), e essa
consciência é nossa aliada na evangelização. Os cristãos devem investir tempo
alimentando a consciência de amigos e familiares com as verdades bíblicas sobre
Deus, a palavra, o pecado, Cristo, o julgamento futuro e a esperança na vida
eterna em Jesus através do arrependimento dos pecados.
Existem muitas maneiras
de se evangelizar durante o Halloween. Alguns irão adotar uma postura de “não
participar”. Eles não querem seus filhos participando de situações
espiritualmente comprometedoras – ouvindo histórias de fantasmas e colorindo
desenhos de bruxas. Eles não querem que seus filhos vistam fantasias e saiam
pedindo “doçura ou travessura”, nem mesmo que participem de eventos
relacionados ao Halloween.
Essa reação normalmente
provoca curiosidade e é uma boa oportunidade para apresentar o evangelho aos
curiosos de plantão. Também é fundamental que esses pais expliquem sua postura
a seus filhos e os preparem para enfrentar as provocações e piadas de seus
colegas que desaprovam essa escolha ou mesmo o desprezo de seus professores.
Outros cristãos vão
optar por eventos alternativos como “Festival da Colheita” ou “Comemorações da
Reforma Protestante” – com as crianças se vestindo de fazendeiros, personagens
bíblicos ou até heróis da reforma protestante. É irônico quando pensamos no
Halloween como uma alternativa, mas ele pode ser uma maneira eficiente de
alcançar vizinhos e familiares com o evangelho. Algumas igrejas deixam seus
templos e realizam ações de impacto em suas comunidades, “adoçando” a vida de
pessoas necessitadas com comida, presentes e a mensagem do evangelho.
Essas são boas
alternativas; existem outras que não são tão boas. Algumas igrejas estão usando
apresentações chamadas “Hell House”, uma estratégia de evangelismo de impacto
direcionada a assustar os mais jovens e convencê-los a aceitarem a Cristo. Os
jovens passam por diversas salas decoradas que demonstram situações pecaminosas
– Mulheres passando por abortos, pessoas sacrificadas em rituais satânicos,
consequências negativas do sexo antes do casamento, o perigo de festas “rave”,
possessões demoníacas e outras tragédias.
Eis aqui o problema com
esse tal de evangelismo “Hell House”: Para chocar uma cultura tão imunda
como a atual é necessário ser realmente muito impactante. Demonstrações
gráficas ou cênicas do pecado e de suas consequências são desnecessárias – as
mentes dos que não creem em Jesus muitas vezes já são dominadas por tais
imagens. O que eles precisam ver é a transformação verdadeira de vidas através
do poder de Deus, e o que eles precisam ouvir são as verdades de Deus através
de uma apresentação fiel do evangelho. Artifícios simplistas não são adequados
para o povo de Deus.
Existe ainda mais uma
opção aos Cristãos: participação limitada e não comprometedora no
Halloween. Não existe nada inerentemente ruim nos doces, fantasias, ou em pedir
“doçuras ou travessuras” em suas vizinhança. Na verdade, tudo isso pode
promover uma oportunidade única para o evangelismo com seus vizinhos. Até mesmo
entregar doces para as crianças que passarem por sua casa – desde que você não seja
mesquinho – pode melhorar sua reputação com as crianças. Desde que as fantasias
sejam inocentes e as atitudes não desonrem Jesus, o “doçura ou travessura” pode
ser usado para a evangelização.
Finalmente, a
participação de cristãos no Halloween é uma questão da sua consciência perante
Deus. Não importa qual seu nível de participação, você deve honrar a Deus se
mantendo separado do mundo e demonstrando misericórdia aos que estão padecendo.
O Halloween nos dá a oportunidade de fazer essas duas coisas através do
evangelho de Jesus e de sua mensagem que é santa e distinta desse mundo.
Existe outra data do ano
em que a mensagem de VIDA contida no evangelho faça tanto sentido?
Texto: Travis Allen
Tradução: Guilherme Andor
Fonte: http://www.pulpitocristao.com/2016/10/cristaos-e-o-halloween.html#more
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